terça-feira, 23 de março de 2010

Ser Igreja hoje, no silêncio do coração...

"Somente o amor é digno de combater a morte. Enquanto vivermos, o que conta é amar os outros, aceitar ser amados e renovar o nosso amor"
Enzo Bianchi, prior do mosteiro de Bose (Itália)


Alguns traços de uma sua entrevista...
"No ecumenismo existe um sopro irreversível, apesar de existir também quem no interior das Igrejas trabalhe contra a unidade, como uma ideologia de clã talvez de tipo tribal, [...] Identidades construídas sem os outros e contra os outros."

"A caridade deve ser sempre inteligente. Sabemos que os pobres vão para onde há pão, e não é o pão que vai para onde estão os pobres."

"A vida interior existe em cada pessoa. Pode ser absolutamente cultivada por todos, crentes e não crentes, fiéis e infiéis."

No mundo actual, "existe tal quantidade de sons, estrondos e mensagens que tornam quase impossível o silêncio. Este causa-nos angústia. Mas, é o lugar onde nasce a palavra verdadeira [...] É uma exigência antropológica antes que cristã [...] É uma mensagem: do silêncio destilamos a autenticidade das palavras. O silêncio traz-nos uma grande paz, diminui a nossa agressividade e muda o nosso olhar sobre os outros".

"Encontrar tempo para estar sós e pensar: tudo o que se faz com os outros, adquire uma qualidade e força diversa, depois."

"O grande drama dos homens é não encontrarem meia hora de silêncio por dia" (Pascal)

"Um verdadeiro crente diz sobretudo, "fala, Senhor, que o teu servo escuta", e não diz, "escuta, Senhor, que teu servo fala". [...] Há um ponto interior, aquele que a Bíblia chama simbolicamente de coração, o profunda da nossa profundeza, no qual devemos acolher a voz de Deus. Então posso iniciar um verdadeiro diálogo."

"A minha vida decide-se agora. Qualquer fragmento do meu tempo é fundamental para minha vida, que está uma só vez no tempo. E o tempo tem um fim, a morte vencida para sempre pela vida e pelo amor."

"o perdão é o amor até ao inimigo [...] Deus misericordioso não nos pedirá contas com severidade daquilo em que tenhamos podido falhar para com Ele. Mas, daquilo que tenhamos falhado em relação aos irmãos, ser-nos-ão pedidas contas de maneira muito precisa. O dia do juízo faz parte do credo cristão e é um fundamento de fé."

Findo repetindo nestes momentos únicos da minha vida, lendo estas linhas,"fala, Senhor, que o teu servo escuta!"

quarta-feira, 17 de março de 2010

Recordação


Foi à 20 anos.
Estava com um grupo de adolescentes, quando irrompem à porta e anunciam:
«Teus pais tiveram um grave acidente. Estão mal.»
Morreram nesse acidente, na tarde de sábado, 17 de Março de 1990.
Do sonho à realidade passou-se dias, meses, anos.
Hoje recordo-os, porque sinto ainda falta deles! Uma palavra amiga como tantas vezes eles me davam...
Deixo, ao recordá-los, umas linhas escritas por eles, em 10 de Dezembro de 1988,que estão dentro do espírito da Quaresma que estamos a viver:

"Odiar os defeitos, mas amar as pessoas que têm esses defeitos.
O especifivo do leigo cristão é viver na família, no trabalho.
Para desenvolver a espiritualidade laical, existe um meio, a oração.
A melhor forma de oração é a virtude.
Para a oração pessoal, temos que arranjar tempo e disponibilidade. Santo é aquele que cai e se levanta
." (in Apontamentos, casal Serôdio)

São saudades! Prometo que, de vez em quando, vou deixar algumas das suas pinceladas, na sua caminhada terrena para o céu.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Pinceladas para o futuro...


Decorreu no passado dia 13 de Março, um encontro, cuja temática foi, Portugal Abaixo dos quarenta: sonhando uma história do futuro.

N’Uma nova palavra, um novo olhar, com a presença do Pe. José Tolentino Mendonça, Ricardo Araújo Pereira e Joana Carneiro, deixam-se algumas pinceladas dos três, na sua ordem inversa.

“A minha profissão é música, toco a Orquestra”. É “brutal” aprender estas coisas: o de dirigir.
Praticar em conjunto é complexo, exige uma aprendizagem contínua, onde se inclui a disciplina. Esta não é exclusiva à música, mas extravasa para outras áreas.
É um exercício contínuo de dar e receber. Saber dar e receber, e ir ao encontro daquele que se lhe apresenta.
Sozinha, não consigo fazer nada.
Cada interveniente na orquestra tem o seu tempo único. Os músicos que compõem a orquestra querem ser inspirados. Isso é liderar. Confiança, fé e imaginação são elementos para superar as dificuldades.
Há uma beleza constante à nossa volta; o difícil torna a vida muito melhor; “…que sorte fazer parte desta criação”
A música é um meio de alcançar o não terreno.

Hoje é um insulto para mim pensar pela positiva, pois foco a negativa.
Tomo o pequeno poema de Idília Lopes, que é a metáfora da minha vida: “os meus gatos gostam de brincar com as minhas baratas”.
O riso ou comédia distorce a realidade de forma grotesca, mas devolve-a com maior claridade.
O meu trabalho consiste em identificar leopardos (citando um aforismo de Kafka).

Olho a realidade com espanto naquilo que as pessoas são.
Sonho um país em que todos chegam a mestres.
Cito Idília Lopes, tal como Ricardo Pereira, “Eu sou uma obra dos outros”

Vemos Deus um olhar que completa o que se cria, “e viu que tudo era bom!”
“O mais difícil do olhar, é o óbvio”, Óscar Wilde
O nosso olhar só cresce, se sair para fora de si. A conquista da exterioridade é o primeiro passo para a conquista de si. A cura é um processo. O Olhar é um processo, requer um caminho para a perfeição do mesmo olhar.
A percepção adquire-se nos outros. A sinceridade como elemento central deste processo, para que o olhar, o verdadeiro olhar aconteça.

No meio deste leque de pinceladas desconexas, finda-se com este pensamento:

“É o momento de os cristãos viverem na fantasia da realidade”

domingo, 7 de março de 2010

Sinais de Deus

Tempo de quaresma, tempo de conversão, de mudança, de metanoia, de recomeçar...

Inseridos no mundo, atentos aos sinais de Deus, procuramos caminhar num contínuo recomeçar...

Há sinais que não compreendemos. Podemos tentar lê-los e interpretá-los...

Hoje estava na eucarístia e ouvia o evangelho e o Jesus dizia aos presentes:

«Julgais que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus, por terem assim sofrido? Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente. E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé, matando-os, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.»

Acontecimentos da altura, sempre presentes hoje no Haiti, na Madeira, no Chile... nas estradas portuguesas.

Veio-me à memória um texto do Pe. Anselmo Borges, cujo titulo, Haiti: onde estava Deus? Muitos ainda gritam e gritaram ao longo da história, onde estava Deus no Gólgota?, onde estava Deus no terramoto de Lisboa (em 1755), no maremoto da Indonésia?, onde estava Deus em Auschwitz?..

Cremos que o mal é também um mistério que dificilmente encaixa na imagem deDeus omnipotente e misericordioso, sobretudo se traduz em sofrimento dos pobres e inocentes.
Deus não é neutral, está também nessses acontecimentos ao longo da história. Podemos e devemos todos tornar-nos presentes...

O Haiti, Madeira, Chile, Auschwitz personificam hoje os povos crucificados; todos temos de mudar, e a referência de Deus de Jesus há-de ser "o grande acicate de justiça e solidariedade" num mundo cuja ordem internacional "está montada sobre a concentração da riqueza em 20% da humanidade e o desamparo de boa parte dela"

De facto não compreendemos muitas vezes os sinais de Deus, porque estamos mergulhados em demasia neste mundo, ao qual não pertencemos.

Dizia Santo Agostinho, criste-nos para Vós, e não descansamos enquanto não reposármos em Vós"

Boa Quaresma!