domingo, 31 de outubro de 2010

All Hallow's Eve

Aí está a invasão publicitária, como em todos os anos nesta época: abóboras, disfarces de bruxas, de fantasmas, de esqueletos, diabos e de morte. E com nomes sugestivos: “Filha das trevas”, “A morte branca”, “Emissário da morte”, “Fantasma do Inferno”.
Para as carteiras menos recheadas, também há forquilhas, cornos e caveiras luminosas e também perucas de lobisomen e dentes de vampiro. Basta entrar nos supermercados e centros comerciais e até mesmo nas lojas de bairro que adultos, crianças e jovens têm uma panóplia para celebrar o Halloween.
A festa das bruxas, que se celebra na noite de 31 de Outubro, coincide com a véspera de todos os santos. Todos os anos a Santa Sé alerta para o carácter pagão do Halloween que "tem um pano de fundo de ocultismo e é absolutamente anticristã" (L’Osservatore Romano). Alguns bispos na Europa alertam os pais para esta onda de paganismo e apresentam alternativas curiosas: as Holywins - que brinca com as palavras "Santo" e "Vencer" - lançada pela diocese de Paris para juntar os jovens e crianças na noite de 31 de Outubro.
Também os bispos do Reino Unido deixam um apelo para que as crianças se disfarcem de santos, em vez de bruxos e diabos, porque a palavra Halloween deriva da expressão inglesa “All Hallow’s Eve”, ou seja “Véspera de Todos os Santos”.
Que bom seria se os portugueses encontrassem alternativas para testemunhar a fé e a esperança cristã diante da morte, em vez de celebrarem o Dia das Bruxas.
(in Página 1 (RR), Aura Miguel)

Jornalismo e cultura



Nada melhor que à lareira, ler um bom livro.
António Lobo Antunes escreveu o livro, lançado nestes dias. "Sôbolos rios que vão" é o título da obra que reflecte sobre a vida.

A expressão não é nova. Percorrendo os diversos autores, vamos encontrá-la ao longo da literatura mundial.
No artigo que li, escreve a jornalista, "tem o título que vai beber inspiração a um verso de Camões". De facto, num dos seus poemas, "Sôbolos rios que vão", Camões escreve estas primeiras linhas, "Sobre os rios que vão, por Babilónia m’ achei onde sentado chorei as lembranças de Sião e quanto nela passei."

Mas será que Lobo Antunes foi beber inspiração nestes versos ou foi beber noutro lugar literário?

Já Jorge de Sena, no capítulo Movimento, o final de Super Flumina Babylonis (Sena, 1983, p. 166), um dos mais belos contos senianos, escreve:

Sobre os rios que vão por Babylónia me achei onde sentado chorei as lembranças de Sião e quando nela passei...
E ficou escrevendo pela noite adiante...
(CA, p.88)

A jornalista podia ia ir mais longe.

De facto, Camões inspirou-se por sua vez no salmo 137(136), onde o salmista escreve, "junto dos rios de Babilónia estávamos sentados e chorando, lembrando-nos de Sião". Este salmo recorda a deportação dos judeus para a Babilónia, devido às catástrofes nacionais, levadas a efeito pelos Edomitas (586) e pelos Caldeus.

É belo conhecer a nossa literatura e a literatura universal...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Inércia nacional

"Politica", palavra de origem grega, que significa, "cidade-casa", isto é, tomar a cidade como nossa casa, e governá-la bem.
Hoje perdeu-se este sentido comunitário de fazer política, porque perdeu-se a responsabilidade de defender o bem comum.

E o que é o bem comum?
A Doutrina Social da Igreja, na encíclica Pacem in Terris, de 1963 pelo Papa João XXIII, define-se:
"O bem comum consiste no conjunto de todas as condições de vida social que consistam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana".

Por isso não admira de ler o texto que se segue, de Aura Miguel:

Surgem arrogantes e soberbos e tratam-nos com
desprezo. Como se tivéssemos feito asneira. Entrincheirados
nos cargos que ocupam, castigam-nos
com pesadas medidas, indiferentes aos reais problemas
das pessoas.
Tiram-nos do bolso para manter “jobs” e alimentar
serviços que escandalosamente só a eles (e aos seus
amigos) beneficiam.

Estou a falar dos nossos políticos, claro: enquanto
for dando, ficam por cá a desgovernar o país, mentindo,
se for preciso, para nos convencer de que
fazem o melhor por Portugal.
Mas, se aparece um tacho melhor, é vê-los
dar o salto e abandonar o país e,
depois, do lado de lá, fazerem apelos à
responsabilidade nacional – que é coisa
que eles próprios nunca tiveram.
Estamos num descalabro e eles mantêm-
se inimputáveis.
Que bom seria se acontecesse como
na Islândia haver um tribunal especial
para julgar a negligência do Primeiro-ministro
e do seu Executivo que levou
ao colapso do país.
E aqui ninguém faz nada?

(Página 1 - RR, 2010.10.01)