Clara Rojas: «O sequestro colocou minha fé à prova em todos os níveis». A ex-companheira de Ingrid Betancourt assegura que está viva graças à fé
A esperança, o perdão e o respeito à vida foram virtudes fundamentais que Clara Rojas lutou por manter durante os seis anos em que esteve sequestrada na selva colombiana. Ela assegura que a fé, incutida por seus pais e as irmãs da comunidade de Cristo Rei, no colégio onde estudou em Bogotá, constituiu uma base sólida para que em seu cativeiro pudesse cultivar estas virtudes.
A advogada colombiana, de 45 anos, sequestrada junto com Ingrid Betancourt em 23 de fevereiro de 2002 e libertada em 10 de janeiro do ano passado, visitou Roma junto com sua mãe, Clara González de Rojas, e seu filho, Emmanuel. Na quarta-feira, 11 de março, os três estiveram presentes na audiência geral com o Papa Bento XVI.
Em seu cativeiro, como ela confessa, sua fé foi provada: quando se inteirava do assassinato de outros compatriotas seus que estavam sequestrados como ela, ou quando em meio a seu cativeiro nasceu seu filho Emmanuel, de quem esteve separada durante três anos.
Em diálogo exclusivo com Zenit, Clara compartilhou a experiência da fé em meio à incerteza total.
– Quando você estava sequestrada, por que optou pelo caminho da fé?
– Clara Rojas: No sequestro, quando se está sozinho, restam somente as portas de Deus. Eu me lembrei das bases católicas que tive e das que pude alcançar. O sequestro me permitiu fortalecer minha fé em Deus e a pôs à prova em todos os níveis. Tive muitas oportunidades de refletir, muitos momentos de paz e de tranquilidade, e isso me permitiu orar, pedir a meu Deus. E creio que as orações tiveram eco e chegaram a algum lugar; e finalmente, graças a isso, foi possível o milagre de encontrar a liberdade e de encontrar-me com meu filho.Às vezes tinha sonhos que não se consegue entender e com o passar do tempo vou compreendendo. Eram como uma voz que me dizia que tivesse calma e que esperasse. Nos últimos três ou quatro meses, antes de que me libertassem, senti como se me tivessem dado a entender que primeiro ia sair livre e depois que ia encontrar meu filho. Isso para mim foi fundamental. É como se tivesse entrado em uma paz sem saber o que ia acontecer, mas com a certeza de que tudo estaria bem. Aceitei que a libertação poderia ser uma possibilidade.
Depois de tanto rezar, recebi bem a notícia da libertação e não me surpreendeu, o dei por feito. Preparei meu equipamento, ainda que não tinha muitas coisas. Deixei umas coisas que já não me serviam e viajei com o mínimo.
Alguns dos que estavam comigo não acreditavam e me diziam: «os guerrilheiros nem sequer lhe confirmaram que vão libertar você». Mas eu no fundo sabia que sim. E era por minha fé em Deus e em Nossa Senhora.
– Algumas pessoas na Colômbia criticaram o facto de que tanto a Clara como Ingrid tenham recorrido à fé no sequestro. Achas que é uma fuga ou é realmente um meio para fortalecer a esperança?
– Clara Rojas: Eu respeito muito as opiniões das pessoas; talvez seja porque eles não viveram uma situação limite, como em meu caso particular. Quando não se tem nada nem ninguém que lhe possa dar um apoio, e quando se tem a educação cristã como eu a tive, a única coisa que tem que fazer é estender a mão ao Deus Todo-Poderoso e aferrar-se a isso para poder buscar uma luz, porque são momentos nos quais se vê total escuridão, não sabe se vão libertar você, não sabe se vão lhe matar, e também você está sozinho. Tem que se agarrar em alguém para poder sobreviver. Ninguém sabe em carne própria o que isso significa. Para mim, o sequestro constituiu uma oportunidade de afiançar minha fé e agradeço a Deus por isso, porque graças a essa fé eu me mantive viva. Se eu não tivesse pensado que existia Deus, que havia uma esperança, e que sempre havia uma possibilidade de encontrar minha liberdade, teria desfalecido no primeiro momento. Tive esperança graças a que pude ler a Bíblia em sua integridade, graças a que pude orar, graças a que pude sonhar. Recebi muitas mensagens de pessoas que diziam que estavam rezando por mim e pela libertação de meu filho, que me permitiram saber que a liberdade podia ser uma realidade.
Sinto-me feliz de saber que graças à fé estou viva. Isso compartilho com as pessoas sobretudo nesta época em que aparentemente ninguém crê em nada.
Eu lhes digo que a fé é uma força muito importante; não se vê, mas move montanhas.
Vou contar-lhe algo que vivi enquanto estava sequestrada: às vezes cantava a Nossa Senhora canções que havia aprendido quando criança e um dia me trouxeram a comida e um dos guerrilheiros me perguntou: «para canta quem você?» E eu disse: «Para Deus e para Nossa Senhora; estou lhe agradecendo por estar viva e porque posso comer». O guerrilheiro me respondeu: «Clara, mas, você crê que se Deus existisse você estaria onde está?». Eu lhe disse: «Deus é um pai. É como quando eu ia ao cinema e lhe dizia: ‘dá-me dinheiro para ir ao cinema’. Eu estou pedindo a Deus que me dê a fortaleza para encontrar a liberdade. É alguém que pode nos dar um apoio quando cremos que isso é impossível».
– Com relação ao seu filho Emmanuel, que nasceu em meio ao sequestro: se uma mulher se encontrasse na mesma situação e quisesse abortar, o que lhe dirias?
– Clara Rojas: Respeitando muito as decisões das outras pessoas, creio que se tem que fazer todo o esforço para salvar a vida, porque as mulheres estão feitas para dar vida. Eu convido as mulheres a que, em qualquer circunstância na qual estejam, por mais difíceis que sejam, se veem a possibilidade de salvar a vida, que perseverem em conservá-la. Nesse momento ninguém apostava nem em minha vida nem na vida de Emmanuel, mas eu digo que foi a mão de Deus que nos acompanhou e, por mais difícil que tenha sido, Ele nos deu a oportunidade de estar vivos e de reunir-nos novamente. Lendo a Bíblia, descobri que Emmanuel quer dizer «Deus conosco» e quando estava grávida pensei: «meu filho tem que se chamar Emmanuel porque ele é uma bênção». Isso é o que significa meu filho em minha vida, «Deus conosco». Agora creio que, se alguém se preocupa por conservar a vida, Deus se encarrega do resto.
– Acreditas que a fé lhe ajudou a perdoar a quem a sequestrou e a quem a separou de seu filho?
– Clara Rojas: Claro que sim. Agora estou escrevendo um livro sobre minha experiência no sequestro. Neste desenvolvo o tema do perdão e me pergunto: «onde me ensinaram a importância de perdoar?». E penso que isso vem da fé. O perdão é importante não só para as pessoas que fazem o mal e que você perdoa, mas para você mesmo. Desta forma não se tem uma carga tão pesada de ressentimento e de ódio. O perdão é um ato libertador que te permite viver a vida e encontrar o sentido da liberdade de maneira mais tranquila e livre. Em meu livro, procuro contar minha história, meu sentimento e meu pensamento. O que sofri, o que padeci, o que tive de enfrentar. Falo de como sobrevivi e do que me permitiu passar seis anos sem liberdade. Em grande parte foi a vontade de Deus que me deu a fortaleza para poder me manter viva e encontrar a liberdade. Em parte. é contar a história por etapas e o mais importante é o reencontro com a liberdade.
domingo, 29 de março de 2009
terça-feira, 24 de março de 2009
Liberdade e tolerância... só para alguns
Os pretensos tolerantes transformam-se rapidamente em intolerantes quando o tema é Igreja ou Papa.
Nestes dias, por causa da visita do Papa a África, tornou-se moda ofender a Igreja, Bento XVI e o que quer que este diga ou faça.
Tudo começou, aparentemente, por causa das afirmações sobre o preservativo. Foi o argumento ideal para que os doutores da lei da actualidade desatassem a vociferar toda a raiva contra a igreja e a sua doutrina.
É curioso como, num mundo em que as palavras "liberdade" e "tolerância" são divinizadas, é concedida tão pouca liberdade e há tão pouca tolerância em relação à Igreja Católica e ao seu ensinamento.
Os pretensos tolerantes transformam-se rapidamente em intolerantes quando o tema é Igreja ou Papa e o motivo é simples: num mundo em que o relativismo impera, é insuportável que alguém afirme uma certeza e defenda que uma só é a verdade.
É por isso que, nos últimos dias, ouvimos e lemos de tudo na nossa comunicação social: que o Papa foi a África falar de caridadezinha, de braço dado com os ditadores esquecendo o povo, que o Papa deve olhar para os africanos de forma diferente e por isso defender o uso do preservativo,
E houve mesmo quem se questionasse como é possível que a Igreja ainda exista nos tempos de hoje?
Tudo afirmações que os factos da realidade se encarregam de desmentir.
Raquel Abecasis
Nestes dias, por causa da visita do Papa a África, tornou-se moda ofender a Igreja, Bento XVI e o que quer que este diga ou faça.
Tudo começou, aparentemente, por causa das afirmações sobre o preservativo. Foi o argumento ideal para que os doutores da lei da actualidade desatassem a vociferar toda a raiva contra a igreja e a sua doutrina.
É curioso como, num mundo em que as palavras "liberdade" e "tolerância" são divinizadas, é concedida tão pouca liberdade e há tão pouca tolerância em relação à Igreja Católica e ao seu ensinamento.
Os pretensos tolerantes transformam-se rapidamente em intolerantes quando o tema é Igreja ou Papa e o motivo é simples: num mundo em que o relativismo impera, é insuportável que alguém afirme uma certeza e defenda que uma só é a verdade.
É por isso que, nos últimos dias, ouvimos e lemos de tudo na nossa comunicação social: que o Papa foi a África falar de caridadezinha, de braço dado com os ditadores esquecendo o povo, que o Papa deve olhar para os africanos de forma diferente e por isso defender o uso do preservativo,
E houve mesmo quem se questionasse como é possível que a Igreja ainda exista nos tempos de hoje?
Tudo afirmações que os factos da realidade se encarregam de desmentir.
Raquel Abecasis
in. RR on-line, 20090323
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Há um mal estar na sociedade. Todos criticam para algumas coisas e para outras "tapam os olhos" em defesa da liberdade de expressão. E muitos orgãos de comunicação, veiculos previligiados de mensagens, "lavam as mãos" como Pilatos, delegando responsabiblidades exclusivas ao autor do texto, do cartoon, da notícia... Tudo em nome da tolerância e da liberdade de expressão.
Foi o que aconteceu recentemente com dois orgãos de comunicação, um diário e outro Semanal.
Estamos a atravessar uma época que acima de tudo, há uma crise de valores, de ética.
Estamos perdidos na procura da nossa identidade, à procura da nossa essência. Quem somos realmente? Para onde vamos? Donde vimos? É urgente encontrarmo-nos!!!
Neste tempo da Quaresma, nada melhor que desafiar-vos para conhecer Jesus Cristo!
quarta-feira, 18 de março de 2009
As pessoas são "prendas"
As pessoas são uma prenda do Pai
Algumas estão magnificamente empacotadas,
à primeira vista atraentes.
Outras estão embrulhadas em papel muito vulgar.
Algumas foram extraviadas pelo carteiro.
Às vezes, é possível que tenham uma distribuição especial.
Algumas são uma prenda muito mal embrulhadas.
Outras foram magnificamente envoltas.
Mas o embrulho não é uma prenda.
Às vezes, a prenda é difícil de abrir,
e à que pedir ajuda.
Será que provoca medo?
Será que magoa?
Será que foi aberta e deixada de lado?...
Eu sou uma prenda.
E, em primeiro lugar, uma prenda para mim mesmo.
O Pai entregou-me a mim mesmo.
Já olhei bem o interior do meu embrulho?
Tenho medo de o fazer?
Talvez não tenha aceite nunca a prenda que sou.
É possível que, dentro do embruhlo,
exista alguma coisa diferente da que eu imagino.
Talvez nunca tenha descoberto
a prenda maravilhosa que eu sou.
Sou uma prenda do Pai.
Uma prenda para mim mesmo,
uma prenda para os outros!
Algumas estão magnificamente empacotadas,
à primeira vista atraentes.
Outras estão embrulhadas em papel muito vulgar.
Algumas foram extraviadas pelo carteiro.
Às vezes, é possível que tenham uma distribuição especial.
Algumas são uma prenda muito mal embrulhadas.
Outras foram magnificamente envoltas.
Mas o embrulho não é uma prenda.
Às vezes, a prenda é difícil de abrir,
e à que pedir ajuda.
Será que provoca medo?
Será que magoa?
Será que foi aberta e deixada de lado?...
Eu sou uma prenda.
E, em primeiro lugar, uma prenda para mim mesmo.
O Pai entregou-me a mim mesmo.
Já olhei bem o interior do meu embrulho?
Tenho medo de o fazer?
Talvez não tenha aceite nunca a prenda que sou.
É possível que, dentro do embruhlo,
exista alguma coisa diferente da que eu imagino.
Talvez nunca tenha descoberto
a prenda maravilhosa que eu sou.
Sou uma prenda do Pai.
Uma prenda para mim mesmo,
uma prenda para os outros!
domingo, 15 de março de 2009
Templos de Deus... necessidade de cuidados!
«Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.» (Jo 2,13-14)
Ao entrar no tempo de Jesus, ao procurar sentir o que os judeus sentiram perante esta personagem, levo a afirmar o quanto sentiam ódio por Ele, e desejo de o eliminar.
Ele revolucionou, alterou todo o status quo de uma sociedade, tinha posto em causa aquilo que para os judeus era mais sagrado e a base do seu sistema social: a Lei e o Templo. E ao pôr em causa estas instituições era a própria autoridade dos diversos grupos que era abalada.
A expulsão dos negociantes do Templo foi a causa pela qual os judeus, desde esse momento, começaram a procurar uma ocasião para O matar. Assim a actuação de Jesus no Templo começa a fazer surgir, nas autoridades judaicas, a ideia de que é preciso matar Jesus.
Jesus tornava-se perigoso e incómodo para as classes dominantes e a melhor solução era eliminá-lo.
João, no seu evangelho, apresenta Jesus como um ser humano que se pode ver e tocar, mas n’Ele reconhecemos também toda a profundidade do mistério de Deus. Salienta aspectos da humanidade de Jesus: cansa-se, tem amigos, chora, vai a casamentos, irrita-se.
Somos os trabalhadores de Deus e construímos o templo de Deus. Somos o templo de Deus! Como estamos a construí-l’O?
A Cruz será a nossa medida nesta Quaresma de 2009. Como sentimos a sua presença na nossa vida?
Ao entrar no tempo de Jesus, ao procurar sentir o que os judeus sentiram perante esta personagem, levo a afirmar o quanto sentiam ódio por Ele, e desejo de o eliminar.
Ele revolucionou, alterou todo o status quo de uma sociedade, tinha posto em causa aquilo que para os judeus era mais sagrado e a base do seu sistema social: a Lei e o Templo. E ao pôr em causa estas instituições era a própria autoridade dos diversos grupos que era abalada.
A expulsão dos negociantes do Templo foi a causa pela qual os judeus, desde esse momento, começaram a procurar uma ocasião para O matar. Assim a actuação de Jesus no Templo começa a fazer surgir, nas autoridades judaicas, a ideia de que é preciso matar Jesus.
Jesus tornava-se perigoso e incómodo para as classes dominantes e a melhor solução era eliminá-lo.
João, no seu evangelho, apresenta Jesus como um ser humano que se pode ver e tocar, mas n’Ele reconhecemos também toda a profundidade do mistério de Deus. Salienta aspectos da humanidade de Jesus: cansa-se, tem amigos, chora, vai a casamentos, irrita-se.
Somos os trabalhadores de Deus e construímos o templo de Deus. Somos o templo de Deus! Como estamos a construí-l’O?
A Cruz será a nossa medida nesta Quaresma de 2009. Como sentimos a sua presença na nossa vida?
terça-feira, 10 de março de 2009
GRÁVIDA DE GÊMEOS EM ALAGOINHA (Brasil)
O lado que a imprensa deixou de contar
Há cerca de oito dias, nossa cidade foi tomada de surpresa por uma trágica notícia de um acontecimento que chocou o país: uma menina de 9 anos de idade, tendo sofrido violência sexual por parte de seu padrasto, engravidou de dois gêmeos. Além dela, também sua irmã, de 13 anos, com necessidade de cuidados especiais, foi vitima do mesmo crime. Aos olhos de muitos, o caso pareceu absurdo, como de fato assim também o entendemos, dada a gravidade e a forma como há três anos isso vinha acontecendo dentro da própria casa, onde moravam a mãe, as duas garotas e o acusado.
O Conselho Tutelar de Alagoinha, ciente do fato, tomou as devidas providências no sentido de apossar-se do caso para os devidos fins e encaminhamentos. Na sexta-feira, dia 27 de fevereiro, sob ordem judicial, levou as crianças ao IML de Caruaru-PE e depois ao IMIP (Instituto Médico Infantil de Pernambuco), de Recife a fim de serem submetidas a exames sexológicos e psicológicos. Chegando ao IMIP, em contato com a Assistente Social Karolina Rodrigues, a Conselheira Tutelar Maria José Gomes, foi convidada a assinar um termo em nome do Conselho Tutelar que autorizava o aborto. Frente à sua consciência cristã, a Conselheira negou-se diante da assistente a cometer tal ato. Foi então quando recebeu das mãos da assistente Karolina Rodrigues um pedido escrito de próprio punho da mesma que solicitava um “encaminhamento ao Conselho Tutelar de Alagoinha no sentido de mostrar-se favorável à interrupção gestatória da menina, com base no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e na gravidade do fato”. A Conselheira guardou o papel para ser apreciado pelos demais Conselheiros colegas em Alagoinha e darem um parecer sobre o mesmo com prazo até a segunda-feira dia 2 de março. Os cinco Conselheiros enviaram ao IMIP um parecer contrário ao aborto, assinado pelos mesmos. Uma cópia deste parecer foi entregue à assistente social Karolina Rodrigues que o recebeu na presença de mais duas psicólogas do IMIP, bem como do pai da criança e do Pe. Edson Rodrigues, Pároco da cidade de Alagoinha.
No sábado, dia 28, fui convidado a acompanhar o Conselho Tutelar até o IMIP em Recife, onde, junto à conselheira Maria José Gomes e mais dois membros de nossa Paróquia, fomos visitar a menina e sua mãe, sob pena de que se o Conselho não entregasse o parecer desfavorável até o dia 2 de março, prazo determinado pela assistente social, o caso se complicaria. Chegamos ao IMIP por volta das 15 horas. Subimos ao quarto andar onde estavam a menina e sua mãe em apartamento isolado. O acesso ao apartamento era restrito, necessitando de autorização especial. Ao apartamento apenas tinham acesso membros do Conselho Tutelar, e nem tidos. Além desses, pessoas ligadas ao hospital. Assim sendo, à área reservada tiveram acesso naquela tarde as conselheiras Jeanne Oliveira, de Recife, e Maria José Gomes, de nossa cidade.
Com a proibição de acesso ao apartamento onde menina estava, me encontrei com a mãe da criança ali mesmo no corredor. Profunda e visivelmente abalada com o fato, expôs para mim que tinha assinado “alguns papéis por lá”. A mãe é analfabeta e não assina sequer o nome, tendo sido chamada a pôr as suas impressões digitais nos citados documentos.
Perguntei a ela sobre o seu pensamento a respeito do aborto. Valendo-se se um sentimento materno marcado por preocupação extrema com a filha, ela me disse da sua posição desfavorável à realização do aborto. Essa palavra também foi ouvida por Robson José de Carvalho, membro de nosso Conselho Paroquial que nos acompanhou naquele dia até o hospital. Perguntei pelo estado da menina. A mãe me informou que ela estava bem e que brincava no apartamento com algumas bonecas que ganhara de pessoas lá no hospital. Mostrava-se também muito preocupada com a outra filha que estava em Alagoinha sob os cuidados de uma família. Enquanto isso, as duas conselheiras acompanhavam a menina no apartamento. Saímos, portanto do IMIP com a firme convicção de que a mãe da menina se mostrava totalmente desfavorável ao aborto dos seus netos, alegando inclusive que “ninguém tinha o direito de matar ninguém, só Deus”.
Na segunda-feira, retornamos ao hospital e a história ganhou novo rumo. Ao chegarmos, eu e mais dois conselheiros tutelares, fomos autorizados a subirmos ao quarto andar onde estava a menina. Tomamos o elevador e quando chegamos ao primeiro andar, um funcionário do IMIP interrompeu nossa subida e pediu que deixássemos o elevador e fôssemos à sala da Assistente Social em outro prédio. Chegando lá fomos recebidos por uma jovem assistente social chamada Karolina Rodrigues. Entramos em sua sala eu, Maria José Gomes e Hélio, Conselheiros de Alagoinha, Jeanne Oliveira, Conselheira de Recife e o pai da menina, o Sr. Erivaldo, que foi conosco para visitar a sua filha, com uma posição totalmente contrária à realização do aborto dos seus netos. Apresentamo-nos à Assistente e, ao saber que ali estava um padre, ela de imediato fez questão de alegar que não se tratava de uma questão religiosa e sim clínica, ainda que este padre acredite que se trata de uma questão moral.
Perguntamos sobre a situação da menina como estava. Ela nos afirmou que tudo já estava resolvido e que, com base no consentimento assinado pela mãe da criança em prol do aborto, os procedimentos médicos deveriam ser tomados pelo IMI dentro de poucos dias. Sem compreender bem do que se tratava, questionei a assistente no sentido de encontrar bases legais e fundamentos para isto. Ela, embora não sendo médica, nos apresentou um quadro clínico da criança bastante difícil, segundo ela, com base em pareceres médicos, ainda que nada tivesse sido nos apresentado por escrito.
Justificou-se com base em leis e disse que se tratava de salvar apenas uma criança, quando rebatemos a idéia alegando que se tratava de três vidas. Ela, desconsiderando totalmente a vida dos fetos, chegou a chamá-los em “embriões” e que aquilo teria que ser retirado para salvar a vida da criança. Até então ela não sabia que o pai da criança estava ali sentado ao seu lado. Quando o apresentamos, ela perguntou ao pai, o Sr. Erivaldo, se ele queria falar com ela. Ele assim aceitou. Então a assistente nos pediu que saíssemos todos de sua sala os deixassem a sós para a essa conversa. Depois de cerca de vinte e cinco minutos, saíram dois da sala para que o pai pudesse visitar a sua filha. No caminho entre a sala da assistente e o prédio onde estava o apartamento da menina, conversei com o pai e ele me afirmou que sua idéia desfavorável ao aborto agora seria diferente, porque “a moça me disse que minha filha vai morrer e, se é de ela morrer, é melhor tirar as crianças”, afirmou o pai quase que em surdina para mim, uma vez que, a partir da saída da sala, a assistente fez de tudo para que não nos aproximássemos do pai e conversássemos com ele. Ela subiu ao quarto andar sozinha com ele e pediu que eu e os Conselheiros esperássemos no térreo. Passou-se um bom tempo. Eles desceram e retornamos à sala da assistente social. O silêncio de que havia algo estranho no ar me incomodava bastante. Desta vez não tive acesso à sala. Porém, em conversa com os conselheiros e o pai, a assistente social Karolina Rodrigues, em dado momento da conversa, reclamou da Conselheira porque tinha me permitido ver a folha de papel na qual ela solicitara o parecer do Conselho Tutelar de Alagoinha favorável ao aborto e rasgou a folha na frente dos conselheiros e do pai da menina. A conversa se estendeu até o final da tarde quando, ao sair da sala, a assistente nos perguntava se tinha ainda alguma dúvida. Durante todo o tempo de permanência no IMIP não tivemos contato com nenhum médico. Tudo o que sabíamos a respeito do quadro da menina era apenas fruto de informações fornecidas pela assistente social. Despedimo-nos e voltamos para nossas casas. Aos nossos olhos, tudo estava consumado e nada mais havia a fazer.
Dada a repercussão do fato, surge um novo capítulo na história. O Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife, Dom José Cardoso, e o bispo de nossa Diocese de Pesqueira, Dom Francisco Biasin, sentiram-se impelidos a rever o fato, dada a forma como ele se fez. Dom José Cardoso convocou, portanto, uma equipe de médicos, advogados, psicólogos, juristas e profissionais ligados ao caso para estudar a legalidade ou não de tudo o que havia acontecido. Nessa reunião que se deu na terça-feira, pela manhã, no Palácio dos Manguinhos, residência do Arcebispo, estava presente o Sr. Antonio Figueiras, diretor do IMIP que, constatando o abuso das atitudes da assistente social frente a nós e especialmente com o pai, ligou ao hospital e mandou que fosse suspensa toda e qualquer iniciativa que favorecesse o aborto das crianças. E assim se fez.
Um outro encontro de grande importância aconteceu. Desta vez foi no Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, na tarde da terça-feira. Para este, eu e mais dois Conselheiros, bem como o pai da menina formos convidados naquela tarde. Lá no Tribunal, o desembargador Jones Figueiredo, junto a demais magistrados presentes, se mostrou disposto a tomar as devidas providências para que as vidas das três crianças pudessem ser salvas. Neste encontro também estava presente o pai da criança. Depois de um bom tempo de encontro, deixamos o Tribunal esperançosos de que as vidas das crianças ainda poderiam ser salvas.
Já a caminho do Palácio dos Manguinhos, residência do Arcebispo, por volta das cinco e meia da tarde, Dom José Cardoso recebeu um telefonema do Diretor do IMIP no qual ele lhe comunicava que um grupo de uma entidade chamada Curumins, de mentalidade feminista pró-aborto, acompanhada de dois técnicos da Secretaria de Saúde de Pernambuco, teriam ido ao IMIP e convencido a mãe a assinar um pedido de transferência da criança para outro hospital, o que a mãe teria aceito. Sem saber do fato, cheguei ao IMIP por volta das 18 horas, acompanhado dos Conselheiros Tutelares de Alagoinha para visitar a criança. A Conselheira Maria José Gomes subiu ao quarto andar para ver a criança. Identificou-se e a atendente, sabendo que a criança não estava mais na unidade, pediu que a Conselheira sentasse e aguardasse um pouco, porque naquele momento “estava havendo troca de plantão de enfermagem”. A Conselheira sentiu um clima meio estranho, visto que todos faziam questão de manter um silêncio sigiloso no ambiente. Ninguém ousava tecer um comentário sequer sobre a menina.
No andar térreo, fui informado do que a criança e sua mãe não estavam mais lá, pois teriam sido levadas a um outro hospital há pouco tempo acompanhadas de uma senhora chamada Vilma Guimarães. Nenhum funcionário sabia dizer para qual hospital a criança teria sido levada. Tentamos entrar em contato com a Sra. Vilma Guimarães, visto que nos lembramos que em uma de nossas primeiras visitas ao hospital, quando do assédio de jornalistas querendo subir ao apartamento onde estava a menina, uma balconista chamada Sandra afirmou em alta voz que só seria permitida a entrada de jornalistas com a devida autorização do Sr. Antonio Figueiras ou da Sra. Vilma Guimarães, o que nos leva a crer que trata-se de alguém influente na casa. Ficamos a nos perguntar o seguinte: lá no IMIP nos foi afirmado que a criança estava correndo risco de morte e que, por isso, deveria ser submetida ao procedimentos abortivos. Como alguém correndo risco de morte pode ter alta de um hospital. A credibilidade do IMIP não estaria em jogo se liberasse um paciente que corre risco de morte? Como explicar isso? Como um quadro pode mudar tão repentinamente? O que teriam dito as militantes do Curumim à mãe para que ela mudasse de opinião? Seria semelhante ao que foi feito com o pai?
Voltamos ao Palácio dos Manguinhos sem saber muito que fazer, uma vez que nenhuma pista nós tínhamos. Convocamos órgãos de imprensa para fazer uma denúncia, frente ao apelo do pai que queria saber onde estava a sua filha.
Na manhã da quarta-feira, dia 4 de março, ficamos sabendo que a criança estava internada na CISAM, acompanhada de sua mãe. O Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (FUSAM) é um hospital especializado em gravidez de risco, localizado no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife. Lá, por volta das 9 horas da manhã, nosso sonho de ver duas crianças vivas se foi, a partir de ato de manipulação da consciência, extrema negligência e desrespeito à vida humana.
Isto foi relatado para que se tenha clareza quanto aos fatos como verdadeiramente eles aconteceram. Nada mais que isso houve. Porém, lamentamos profundamente que as pessoas se deixem mover por uma mentalidade formada pela mídia que está a favor de uma cultura de morte. Espero que casos como este não se repitam mais.
Ao IMIP, temos que agradecer pela acolhida da criança lá dentro e até onde pode cuidar dela. Mas por outro lado não podemos deixar de lamentar a sua negligência e indiferença ao caso quando, sabendo do verdadeiro quadro clínico das crianças, permitiu a saída da menina de lá, mesmo com o consentimento da mãe, parecendo ato visível de quem quer se ver livre de um problema.
Aos que se solidarizaram conosco, nossa gratidão eterna em nome dos bebês que a esta hora, diante de Deus, rezam por nós. “Vinde a mim as crianças”, disse Jesus. E é com a palavra desde mesmo Jesus que continuaremos a soltar nossa voz em defesa da vida onde quer que ela esteja ameaçada. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente” (Jo, 10,10). Nisso cremos, nisso apostamos, por isso haveremos de nos gastar sempre. Acima de tudo, a Vida!
Pe. Edson Rodrigues
Pároco de Alagoinha-PE
padreedson@hotmail.com
(87) 3839.1473
quarta-feira, 4 de março de 2009
Necessidade de uma ordem ética...
Não fui ouvir, num dia destes, Francisco Sarsfield Cabral. Contudo, tenho lido notícias relacionadas com as suas intervenções.
Ao falar da actual crise, uma ideia que se tem destacado nas suas intervenções, refere-se à ordem ética. De facto, transmite que as causas mais profundas são de ordem ética, onde muitos capitalistas convenceram-se que tudo seria possível, incluindo procedimentos de duvidosa moralidade: falta de cuidado na concessão de crédito, a irresponsabilidade com que gestores bancários e financeiros aconselharam aos seus clientes aplicações que se revelaram de alto risco.
Aponta as consequências, o aumento do desemprego e a falta de dinheiro do Estado para ajudar quem precisa.
Aponta medidas que se podem tomar, tais como evitar o colapso do sistema financeiro, apostar em políticas para espevitar a procura (investimentos públicos e/ou baixa de impostos), reforçar os apoios sociais.
Na revista Visão, surge uma pequena reportagem, onde a ideia chave mostra que a fé pode ser boa para a saúde, como a fé pode curar.
Realmente, nestes tempos de turbulência, um olhar para a fé, para o Deus de Jesus Cristo, ajuda-nos a olhar para o essencial, para a nossa essência no encontrar o sentido para a vida, a reconstruir uma ordem ética, de valores como respeito, hospitalidade, entre-ajuda…
Desafio-vos a experimentarem e vão ver que encontraram soluções para a tão badalada crise.
Ao falar da actual crise, uma ideia que se tem destacado nas suas intervenções, refere-se à ordem ética. De facto, transmite que as causas mais profundas são de ordem ética, onde muitos capitalistas convenceram-se que tudo seria possível, incluindo procedimentos de duvidosa moralidade: falta de cuidado na concessão de crédito, a irresponsabilidade com que gestores bancários e financeiros aconselharam aos seus clientes aplicações que se revelaram de alto risco.
Aponta as consequências, o aumento do desemprego e a falta de dinheiro do Estado para ajudar quem precisa.
Aponta medidas que se podem tomar, tais como evitar o colapso do sistema financeiro, apostar em políticas para espevitar a procura (investimentos públicos e/ou baixa de impostos), reforçar os apoios sociais.
Na revista Visão, surge uma pequena reportagem, onde a ideia chave mostra que a fé pode ser boa para a saúde, como a fé pode curar.
Realmente, nestes tempos de turbulência, um olhar para a fé, para o Deus de Jesus Cristo, ajuda-nos a olhar para o essencial, para a nossa essência no encontrar o sentido para a vida, a reconstruir uma ordem ética, de valores como respeito, hospitalidade, entre-ajuda…
Desafio-vos a experimentarem e vão ver que encontraram soluções para a tão badalada crise.
segunda-feira, 2 de março de 2009
A lenda de Despereaux
Foi na época natalícia, que apareceu o filme “A lenda de Despereaux”, de Kate DiCamillo.
Fui vê-lo. Surpresa agradável.
Uma história simples de um pequeno rato, único sobrevivente de uma ninhada de ratos, com orelhas grandes. Distingue-se por ser um ratinho destemido, diferente do comum dos ratos : pela sua valentia, ausência de medo, e ser verdadeiro e respeitar e procurar defender o “código de honra”, como cavalheiro que ‘é’.
Despereaux Tilling, um pequeno mas corajoso rato, é diferente dos restantes ratos. Os seus sonhos conduzem-no para fora do mundo dos ratos e para o mundo das pessoas e das ratazanas. Pelo caminho, ele descobre algumas coisas surpreendentes sobre si mesmo e sobre aqueles que o rodeiam. No final, Despereaux descobre que mesmo o ratinho mais pequeno pode ser corajoso e bem sucedido como qualquer cavaleiro andante.
No final do livro, a autora recorda uma frase da personagem Gregory, o carcereiro, dirigida a Despereaux: "As histórias são luz." E manifesta depois um pequeno desejo ao leitor: "Espero que tenhas encontrado alguma luz nesta história."
Mas, neste pequeno apontamento, dois aspectos me sobressaíram: pode-se vencer na diferença, procurando ser fiel ao seu ‘eu’ e o sentimento adveniente do perdão sobressai em relação a um outro que surge da raiva.
Em época de Quaresma, é bom tomar esta última ideia, para melhor vivermos connosco próprios e com os outros. Quando perdoamos, esse acto enche-nos mais o nosso coração… Experimentem!
Fui vê-lo. Surpresa agradável.
Uma história simples de um pequeno rato, único sobrevivente de uma ninhada de ratos, com orelhas grandes. Distingue-se por ser um ratinho destemido, diferente do comum dos ratos : pela sua valentia, ausência de medo, e ser verdadeiro e respeitar e procurar defender o “código de honra”, como cavalheiro que ‘é’.
Despereaux Tilling, um pequeno mas corajoso rato, é diferente dos restantes ratos. Os seus sonhos conduzem-no para fora do mundo dos ratos e para o mundo das pessoas e das ratazanas. Pelo caminho, ele descobre algumas coisas surpreendentes sobre si mesmo e sobre aqueles que o rodeiam. No final, Despereaux descobre que mesmo o ratinho mais pequeno pode ser corajoso e bem sucedido como qualquer cavaleiro andante.
No final do livro, a autora recorda uma frase da personagem Gregory, o carcereiro, dirigida a Despereaux: "As histórias são luz." E manifesta depois um pequeno desejo ao leitor: "Espero que tenhas encontrado alguma luz nesta história."
Mas, neste pequeno apontamento, dois aspectos me sobressaíram: pode-se vencer na diferença, procurando ser fiel ao seu ‘eu’ e o sentimento adveniente do perdão sobressai em relação a um outro que surge da raiva.
Em época de Quaresma, é bom tomar esta última ideia, para melhor vivermos connosco próprios e com os outros. Quando perdoamos, esse acto enche-nos mais o nosso coração… Experimentem!
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